Porquês da minha saída

O melancólico ano de 2019 terminou para mim não somente com o fracasso do “não-acesso” à Série B, mas marcou também o fim da minha segunda passagem no setor de comunicação do Belo. Após convite feito pelo então diretor de futebol do clube, Breno Morais em novembro de 2017, retornei ao clube que domina meu humor com a missão de reformular a gestão dos perfis nas redes sociais do clube.

Aqui vai mais um textão, que serve mais do que como prestação de contas, mas um esclarecimento a quem acompanhou e torceu pelo meu trabalho no clube.

Depois de passar em 2015 pelo Belo como assessor de comunicação, o novo objetivo era melhorar o planejamento profissional empregado no Facebook, Twitter e Instagram do Botafogo. Tive nos primeiros dias dessa missão, entre 2017 e 2018, o parceiro que tinha me salvado em 2015, meu irmão de bancada George Júnior, o tal do Belo Mil Grau.

A parceria não teve como se repetir por muito tempo porque o setor de comunicação do Belo na temporada 2018 passou por turbulências causadas por ego e por disputas de protagonismo. Você só conhece de verdade o que é o futebol depois de você vivenciar o que é um clube grande por suas entranhas. Você vive com aquele ditado do poeta, “quem sorri pra ti quer ver tu cair”.

Por questões de saúde, física e mental, George passou o bastão pra Rênner Ribeiro, designer da página especializada no Botafogo e gerida por torcedores Bora Belo. Além de torcedor de bancada, de pensamento crítico aguçado (pra não chamar de corneta), Rênner era um dos melhores designers disponíveis na torcida.

Sim, no meu planejamento para as redes sociais do Belo não tinha sentido em não tocar o marketing digital do clube se não fosse com alguém que conhecesse muito nossa paixão.

Da arquibancada para o clube. Esse seria o nosso diferencial de qualquer outro que tivesse passado pela gestão de marketing do Belo. É preciso que se diga, não é obrigado ser torcedor de um determinado clube para se tornar funcionário dele, mas convenhamos que trabalhar com comunicação institucional de um clube de futebol é bem diferente de tocar uma “house” de um loja de departamento.

Por isso, amigo, arte pra Instagram de clube não pode ser tratada como cartela de varejo de loja de eletrodoméstico. É preciso sensibilidade, paixão, tesão.

Começamos a trabalhar na reformulação da identidade visual do clube nas redes sociais. Definimos padrão para tudo, desde arte de divulgação de jogo, passando por arte de escalação, até nota de pesar. Tudo bem amarrado, com conceito em cada uma das escolhas.Trabalhamos em projetos que não diziam respeito à gestão das redes sociais, não somente por proatividade, mas porque queríamos ajudar a crescer o clube o quanto nos fosse permitido.

Ajudamos em produção de teaser de lançamento de uniformes, opinamos na formatação e nos valores dos planos de sócio, fazia até o papel de porta-voz da torcida, mesmo sem ter sido eleito pela bancada para essa missão, mas que diante da escassez de opinião da torcida dentro do clube, já era de grande valia.

Mais do que somente melhorar a curadoria da informação que era postada nas redes do clube, a gente conseguiu criar um canal dentro do clube, levando pra diretoria o que era pleito da torcida, fortalecendo o que era comentado pelos torcedores nos perfis oficiais.

Os números falam mais do que qualquer autoelogio. Entre dezembro de 2017, quando assumi as redes do clube, e setembro de 2019, quando deixei de se funcionário do Belo, ou torcedor assalariado, como algumas almas sebosas gostam de me provocar, o Instagram oficial do Botafogo da Paraíba cresceu o número de seguidores em 129%. Pra quem é leigo na matemática tipo eu, é mais que dobrar, visse.

Claro que houve um crescimento natural, por se tratar de uma rede social que havia ganhado protagonismo no país, mas a pujança do aumento ajuda a comprovar que o trabalho foi diferenciado. Também crescemos aproximadamente 39% o número de seguidores do Twitter. Aliás, o perfil do Belo na plataforma do passarinho foi minha menina dos olhos.

Consegui na base na conversa e da boa relação o @BotafogoPB que pertencia ao torcedor corneta ilustre Cristian Troccoli, abusei de provocar rival, de soltar piada infame, inaugurei a narração lance a lance das partidas oficiais do Belo (coisa que só outros dois ou três clubes da Série C faziam), transformei o que antes era mero repostador do conteúdo do Instagram no perfil mais legal do Belo, na minha desautorizada opinião.

Rolou um crescimento também no Facebook, nas curtidas (que na minha lógica é mais importante do que seguidores), mas esse número aí eu não tinha registrado no primeiro relatório de métricas que fiz e por isso não tenho como apontar o crescimento.

Junto com a TV Belo do pequeno gigante Beto Kiss nos tornamos, dentro da metodologia do Ibope/Repucom no clube mais seguido da Paraíba (somando Instagram, Twitter, Facebook e Youtube). Um crescimento orgânico, sem seguidor da Malásia ou da Tailândia (viu, galera dos times serranos?). Esse esforço todo rendeu, após ampliação do ranking, a entrada do Belo na lista dos 50 clubes com mais seguidores do Brasil feito pelo Ibope em janeiro de 2020. Uma obsessão que tinha em 2019 quando o ranking era feito com 45 times.

Puxando a sardinha pro PodBotafogo, foi por iniciativa nossa que Paulo Cavalcanti, o Paulão da Regulagem deste infalível podcast, passou a fazer fotos padrão CBF nos jogos do Belo. Material que era usado quase sempre por outros perfis oficiais, como o da Copa do Nordeste, e pela imprensa local e nacional.

Mas o grande feito que deixei na minha segunda passagem pela comunicação do clube foi a conquista do selo de verificação dos perfis do Facebook e do Instagram. Uma conquista pessoal, alcançada na base de muita insistência, ligações, mensagens de WhatsApp e emails. Talvez tenha sido pouco, mas foi definitivo. Saí, mas deixei um legado. Isso pra mim foi tão importante quanto o gol de Larramendi contra o Central.

O porquê de me saírem

A avaliação feita pelo clube era de que o meu trabalho tinha sido bem feito, mas era caro. O contrato feito comigo via pessoa jurídica era de 3k, que eu tirava 200 paus pra investir em patrocínios de postagens e o restante dividia meio a meio com o parceiro designer. Sim, pra trabalhar full time, gerir crises, ajudar a planejar a comunicação e o marketing, gerir as redes e torcer eu levava limpo 1,4k.

Com todo respeito aos terceiros goleiros ou os moleques que tão subindo da base, mas com o gasto com a equipe de mídias rendia, na prática, um retorno mais seguro ao clube com um custo menor. Mas a justificativa usada para avisar do meu desligamento, que aliás não foi feita pelo presidente eu não sei porque, foi de corte de custos no clube. Sim, no ano de maior receita nos 88 anos de história, eu estava sendo demitido por contingenciamento.

Aceitei numa boa, apesar do argumento, e toquei meu trabalho. Cumpri o último mês que faltava de contrato sem o auxílio de Renner Ribeiro. Fiz o melhor que pude e entreguei o bastão ao novo diretor-adjunto de marketing Renan Cavalcanti. O clube honrou com todos os compromissos financeiros e eu honrei com o contrato, fazendo o melhor na transição.

Tempos depois fiquei sabendo por outras fontes os reais motivos da minha saída. Foram três motivos, na verdade. Aparentemente nenhum deles foi financeiro, até porque se fosse, teriam me chamado pra conversar e feito uma proposta de redução do valor mensal do contrato. Não vou chamar de covardia, mas de conveniência.

O primeiro foi de que muitos que compunham o núcleo duro da política interna do clube me viam como integrante do grupo organizado de torcedores Bora Belo. Uma turma legal, jovem, extremamente crítica, às vezes “resultadista” que toma conta de um perfil no Instagram e de um grupo de Whatsapp da torcida do Belo.

Por Renner ter feito parte do grupo, ou fazer, fui colocado como o “dono” do Bora Belo, considerado um grupo de ~ oposição ao Botafogo ~. Acusaram de vazamento de informações de contratação (coisa que existia antes de mim, quando o Bora Belo nem sonhava em surgir) e de escalações, mesmo nunca tendo visto o perfil do Bora Belo publicar os 11 de início antes do perfil oficial. O mais louco de tudo isso é que eu não tinha absolutamente nada a ganhar vazando informações, tanto que muitas informações sigilosas foram passadas a mim ao longo desses dois anos e nada foi visto circular a partir de mim.

Quem me conhece sabe o tanto de discussão que já peguei com os amigos do Bora Belo sendo o babãozinho de diretor que sempre fui. Conheço alguns dos integrantes, mas não tenho, nem nunca tive qualquer ingerência no grupo. Ao que parece, a narrativa de “dono do Bora Belo” foi instalada por alguém que entende de comunicação, de políticas enquanto xadrez e muito bem comprada pelo Conselho Deliberativo do clube.

O Conselho Deliberativo, aliás, tem muito a ver com o segundo motivo. Entre a inúmeras crises vividas pelo clube entre 2018 e 2019, uma delas foi a mais desnecessária. Criada de uma maneira pouco inteligente. O episódio xoxola. Eu, sendo o metido que sou, fiz críticas a postura do diretor, comentei que a gente havia acabado de sair de uma crise pra entrar em outra sem o menor cabimento, criando animosidade com a torcida quando o momento era de convocação.Comentei no PodBotafogo tudo que havia falado diretamente para o diretor. Descobri depois que o episódio em que eu critiquei a postura xoxola dele pesou.

O terceiro e mais determinante motivo para o meu desligamento foi a minha proximidade com Breno Morais. Após a cisão de poderes no Belo, o presidente retirou algumas pessoas que tinham proximidade com o ex-diretor do clube. A estratégia era de acabar com a influência que o sheik ainda tinha dentro do Belo. Ainda que tenha ascendido ao poder por meio dessa influência, é um direito de Sérgio Meira querer tocar o clube ouvindo quem ele quer. Oportunismo ou não, eu fui um dos que rodou nessa limpeza das arábias.

Entre erros e acertos, encerrei minha segunda passagem como funcionário do clube orgulhoso do legado deixado. Conseguimos em pouco mais de dois anos aumentar o sarrafo da qualidade do serviço prestado na comunicação e marketing, obrigando quem assumiu a fazer pelo menos igual (a despeito do biscoito que alguns querem usando as mídias do clube), instigando a torcida a cobrar pela manutenção dos investimentos na área de comunicação do Belo. O departamento de marketing e comunicação se profissionalizou muito nos últimos cinco anos.

Eu, apaixonado que sou, deixo o clube, mas não saio dele. Volto para o concreto do Almeidão, sigo no microfone do PodBotafogo e nas redes sociais comentando tudo que acontece no maior clube de futebol do meu estado.